CONSTRUÇÃO DE HOSPITAL EM ÉPOCA DE PANDEMIA
- salix-engenharia
- 12 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Em abril de 2020, a Revista Painel, especializada em engenharia e arquitetura, procurou a Sálix Engenharia para uma contribuição nas reportagens sobre a construção de hospitais, tema que estava em voga com o avanço da pandemia. Os pareceres da Sálix Engenharia compuseram as reportagens “O segredo da China” e “Por que a engenharia brasileira não é tão ágil quanto a chinesa?”, que podem ser conferidas no link abaixo:
https://www.aeaarp.org.br/upload/revista/20200429121356150-abril-2020.pdf
A construção de Hospital Huoshenshan é algo que impressiona mundialmente. Sem dúvida, foi um prazo extremamente enxuto para uma construção de hospital deste porte (25 mil m² em 10 dias). Apesar de poucas informações disponíveis na mídia acerca deste projeto, diversos pontos podem ser destacados, por inferência, para que este feito tenha sido concluído, entre eles:
Utilização de construção modular;
Volume de trabalhadores qualificados elevado atuando no projeto;
Volume de equipamentos, como guindastes e escavadeiras, incrivelmente alto;
Disponibilidade, no estoque de fabricantes, de equipamentos de climatização, centrais de gases medicinais e equipamentos de backup de energia compatíveis;
Possuir fabricação local de todos os insumos necessários para a construção da edificação, sem necessidade de importação de materiais e/ou equipamentos;
Utilização de construção horizontal (apenas dois pavimentos);
Condições do terreno favorável com pouco desnível;
Condições do solo previamente analisada com facilidade para fundação rasa;
Disponibilidade de área de canteiro para logística e armazenagem;
Padronização dos ambientes com baixa complexidade de construção, sendo, em sua maioria, leitos de internação;
Atuação do governo para agilidade nas liberações e aprovações.
Importante salientar que o prazo de construção não envolve o prazo de projetos de arquitetura, instalações, estrutura, detalhamento de montagem, entre outros. Ou seja, entende-se que a concepção deste projeto teve início antecipado e supõe-se que isto está inserido em um plano governamental de emergência em casos de calamidade. Outro ponto relevante é o prazo de montagem dos módulos em fábrica que não temos notícia se foi contabilizado. Possivelmente, o prazo informado de 10 dias de construção não contempla o período que antecede a chegada dos módulos ao canteiro de obras, em que muitas atividades podem ser adiantadas em fábrica.
Ressalto que este conjunto de itens levantados permitiram a construção deste hospital em tempo recorde e não usual, mas não tira, em nenhum aspecto, os méritos e a enormidade do feito realizado pela China.
Diversos fatores listados, que possibilitaram a construção do hospital chinês em um curto prazo, apresentam-se como dificuldades para o cenário da engenharia de construção nacional. Realmente, a construção modular não é uma prática tão disseminada no cenário nacional, mas a industrialização, aplicação de técnicas como lean construction e a racionalização da construção civil, que passa por materiais inovadores, projetos eficientes até chegar ao canteiro de obras com menos desperdício e maior produtividade é algo que vem ocorrendo cada vez mais.
A atuação do governo para viabilizar o projeto é fundamental, seja provendo recursos físicos e financeiros, seja na agilidade das liberações e aprovações de Prefeitura, Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros. Na cidade de São Paulo, por exemplo, podemos citar o Programa Silêncio Urbano (Lei do PSIU) e a restrição de caminhões na Marginal Tietê e no centro expandido que dificultariam uma construção como a do Hospital Huoshenshan e teriam que ser revistas para que a obra pudesse atingir prazos de conclusão menores.
- Quais as principais dificuldades da construção de hospital?
O volume de instalações é uma particularidade das obras hospitalares. Gases medicinais, sistemas backup de energia com geradores e nobreaks, climatização e exaustão específicas com filtragens de ar, controle de umidade, diferenciais de pressão, sistema de combate a incêndio e uma automação cada vez mais presente e sofisticada, trazem complexidade às edificações hospitalares.
Podemos destacar também a necessidade de atendimento às diretrizes da Vigilância Sanitária, os diferentes tipos de acabamento dos ambientes, a particularidade de cada área necessária para o funcionamento de um hospital e a interface com os equipamentos médicos que demanda instalações e blindagens específicas. Aprofundando a dificuldade da edificação hospitalar possuir o mais variado tipo de ambientes, podemos citar algumas áreas que possuem diferentes características construtivas: centro cirúrgico, áreas administrativas, centros de diagnósticos por imagem, cozinha industrial, central de material esterilizado, unidades de terapia intensiva, entre outros.
- Com a chegada da pandemia no Brasil, é possível construir hospitais em curto espaço de tempo?
O que temos notado como solução no Brasil e no mundo para combater a pandemia do COVID-19 é a construção de hospitais de campanha, que são estruturas provisórias de baixa complexidade construtiva e muito ágeis. A solução foi adotada em diversas cidades do Brasil, como as estruturas do Pacaembu e Anhembi em SP, semelhantes ao que foi adotado em outros grandes centros no mundo, como Nova Iorque, Londres e Madrid. Ressalta-se a participação da iniciativa privada, prefeituras e Exército para viabilizar estes hospitais em diversas localidades para ajudar o sistema de saúde local a suportar a alta demanda causada por essa pandemia. O maior desafio, neste caso, é o recrutamento de equipes de saúde qualificadas, suprimento de equipamentos médicos, como respiradores, e de material de consumo / EPIs, como máscaras e aventais.

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